quarta-feira, 30 de maio de 2012

Resenha: "Os Corumbas"de Amando Fontes


Olá pessoal, hoje vamos à Aracaju nas primeiras décadas do século XX. Para isso tomaremos a obra “Os Corumbas” de Amando Fontes. Espero que vocês gostem desta viagem, pois haverá outras ainda melhor. 

Amando Fontes, nasceu em 15 de maio de 1899 em Santos estado de São Paulo. Aos cinco meses seu pai o farmacêutico Turíbio da Silva Fontes faleceu. Em seguida a família volta para Aracaju de onde era oriunda. Em Aracaju Fontes começou a freqüentar a escola normal seguindo para o Ateneu Sergipense. Com quinze anos começou a trabalhar no Diário da manhã, de Aracaju, tempos depois se mudou para Belo Horizonte com o objetivo de trabalhar para pagar seus estudos, lá ele teve contato com as letras sendo influenciado por clássicos Portugueses e pelos poetas  nacionais, entre eles Machado de Assis. Em 1917 retorna a terra natal por motivos de saúde. Em 1919 viaja para o rio de Janeiro para freqüentar a escola nacional de medicina. Ainda por motivos de saúde retorna para Sergipe e se associa ao tio na exploração de salinas nos arredores de Aracaju e da fazenda de sua família. Foi durante este período, que Fontes começou a escrever os Corumbas, este publicado em 1933. Elogiado pela crítica, foi o primeiro a obter o prêmio Felipe de Oliveira.
É importante situar o autor em seu tempo. Amando Fontes viveu em Aracaju durante o período no qual ele usa de cenário para seu romance. Durante as primeiras décadas do século XX, a capital sergipana passava por um processo de mudança, onde a nova capital se torna o centro econômico do estado, surgem fábricas, porto, salinas e vários outros campos de trabalho, assim como os jornais e escolas, no entanto é importante ressaltar que estas atividades estavam ligadas a fatores externos, estes possibilitaram não só o avanço econômico, mas também cultural, pois aumentará o número de intelectuais, os quais  em sua maioria eram filhos de senhores que iam estudar em outras regiões do Brasil como Pernambuco e Bahia, mas além destes destaca-se também a variedade cultural que circulava em Aracaju fora do quadrado de Pirro, esta era composta pela população que habitava o morro do Santo Antônio, eram trabalhadores das fabricas Sergipe Industrial e a empresa têxtil.
A narrativa de os Corumbas retrata a história de famílias que fugiam da seca do interior indo para a capital com a esperança de mudar de vida com o emprego nas fabricas. Para contar está história, Fontes narra à trajetória da família de Geraldo Corumba, o qual foge da seca no interior do estado à procura de uma nova vida na capital. Durante sua narrativa Fontes aborda a vida nas fabricas de Aracaju destacando as mulheres e  as dificuldades que as famílias passavam com o baixo salário, alto grau de mortalidade provocada não só pela má condição de trabalho, mas também pelos surtos de epidemias que assolava a região.
A família Corumba passa por todas as dificuldades expostas acima, de início as filhas mais velhas o filho e o pai trabalham para ajudar nas despesas, conservando as duas mais novas na escola, uma muito doente não prospera nos estudos e a outra consegue alcançar um grau maior, mas não conclui. Não demorou, para as moças mais velhas da casa cair na prostituição, pois nas fábricas eram muitas as mulheres, inclusive as moças e crianças, muitas delas eram seduzidas e ameaçadas por seus superiores, assim relata.
“Foi Misael o contramestre da minha seção... Miserável ele não gosta de mim, porque eu não sou como as outras, que lhe dão confiança... Safado! Uma vez me deu uma palmada nas cadeiras. Mas eu desgracei logo com ele. Gritei-lhe logo no fucinho: A trevido! Moleque! Vá bater na sua mãe, peste! O povo todo viu... Ele ficou danado comigo e por isso vivi de prevenção... Hoje só porque eu cheguei um bocadinho mais tarde- ainda não tinham fechado o ponto- o infame disse que eu não entrava neste quarto”. (FONTES. 1933. P.25).
O filho era o que mais avançava na profissão, mas ao ser influenciado por ideais revolucionários acaba sendo preso e deportado, o que agrava ainda mais a situação da família tendo que sacrificar a filha do meio no trabalho das fabricas, porém esta não tarda a morrer, pois a saúde já não era das melhores e com o trabalho só piorou. É quando a filha mais nova deixa a escola para ajudar a família nas despesas, o destino dela seria o mesmo das outras duas, a prostituição. As mulheres das fabricas, não eram bem vistas pela sociedade.
“Mariinha começou a contar o que Deu com  Amélia, sua irmã, um dia desses. Ela trabalha no escritório da Têxtil. É uma moça bonita, bem altona,  e tem um proceder correto como poucas. Pois bem: gostava a muito tempo de um rapaz lá da cidade. Estava quase noiva. E, quando é agora, ele acaba com tudo de uma vez, obrigado pela família, que não quis o casamento nem por nada, só porque ela é uma  moça do tecido...  A gente ficou pensando que tem mesmo uma sorte triste. Contra ela não há remédio que sirva, porque a moça que trabalha numa fabrica pode ser boa e direita como for, que não adianta. É sempre tratada de resto, com desprezo...Todos torcem a boca para um lado e vão dizendo É uma operária...Como se todas fossem iguais!” ( FONTES. 1933.141)
Depois de tantas dificuldades, o casal volta para o interior, mas desta vez sozinhos, perderam as três filhas para a prostituição, uma morta e o único filho deportado como um bandido.
Os Corumbas apesar de ser uma obra literária, possui um caráter forte, onde o autor usa a realidade sofrida da população pobre, vitimas da exploração do capitalismo,onde os trabalhadores são submetidos a miséria sem nenhuma garantia de condições melhores. Para a história, “Os Corumbas” tem um papel muito importante,  pois nos mostra como se dava as relações socias e culturais da população que habitava a região fora do quadrado de pirro, em um período em que as discussões dos intelectuais estavam mais voltadas para formação de uma identidade através da educação para a formação do trabalho e das contendas sobre os limites entre Sergipe e Bahia.



    


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